domingo, 19 de julho de 2009

Brasil lidera ranking de mortes no futebol

Brasil lidera mortes no futebol

Nos últimos dez anos, 42 torcedores morreram em conflitos dentro, no entorno ou nos acessos aos estádios de futebol. Os dados foram contabilizados e estudados pelo sociólogo e professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Maurício Murad, entre 1999 e 2008.
"Quando começamos a fazer o levantamento, o Brasil estava em terceiro lugar na comparação com outros países no número de óbitos. A ordem era Itália, Argentina e Brasil. Hoje, dez anos depois, o Brasil conquistou o primeiro lugar. É uma conquista trágica, perversa", afirmou.


Segundo ele, essa constatação deve ser uma grande preocupação para um país que vai abrigar um grande evento como a Copa do Mundo de 2014. "Essa violência é uma preocupação para a Copa porque, de todos os problemas que a Fifa acompanha, e de tudo o que o caderno de exigências para a Copa do Mundo determina, a segurança pública é um dos principais. O problema da segurança pública é da maior importância para a Copa do Mundo."
O fato de o Brasil estar ocupando o primeiro lugar no número de óbitos em conflitos de torcedores deve-se, de acordo com Murad, ao fato de não ter ocorrido aqui uma reação a esse tipo de violência, tal como fez a Itália, promovendo reformas na legislação, até para punir os dirigentes que incitam a violência. "No Brasil, infelizmente, não houve reação satisfatória e consistente."


Um outro dado alarmante da pesquisa, conforme o sociólogo, é que a proporção dos óbitos vem aumentando nos últimos cinco anos. Se num período de dez anos a média é de 4,2 mortes a cada ano, no período entre 2004 e 2008 o número de mortos totaliza 28, dando uma média de 5,6 mortos por ano. A proporção é ainda bem maior se contabilizados apenas os dois últimos anos: 14 mortes ocorreram entre 2007 e 2008, uma média de sete mortos por ano.
"Significa não só que a soma dos óbitos é uma coisa preocupante, alarmante e que tem que ser vista, estudada e contida, como também que a proporção, nos últimos dez anos, é crescente e, portanto, muito mais preocupante", afirmou. "Cresceu a violência no futebol porque cresceu a violência no país. E cresceu a violência no país porque a impunidade e a corrupção são cada vez maiores", reiterou.


Além do crescimento do número de mortos em conflitos esportivos nos últimos anos, a pesquisa também verificou mudanças na forma dessa violência. Se antes as mortes ocorriam por quedas ou brigas, hoje elas ocorrem geralmente por armas de fogo.
Outro dado novo que foi observado nos últimos anos é a marcação dos conflitos e das tocaias contra grupos de torcedores rivais por meio da internet e do site de relacionamentos Orkut.
A maior parte dos mortos, de acordo com a pesquisa, era composta por jovens entre 14 e 25 anos, de classe baixa ou média baixa, com escolaridade até o ensino fundamental e, em geral, desempregado. E também foi constatado que, em grande parte, esses torcedores não eram ligados a práticas de violência.


"Em quase 80% dos óbitos, as pessoas não tinham nenhuma ligação com setores violentos ou delinquentes de torcidas organizadas. Apenas em 20% é que os óbitos eram de pessoas ligadas a grupos de vândalos", afirmou Murad.
Murad propõe como soluções de combate a essa violência nos esportes, em curto prazo, ações mais repressivas, tais como a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios; o controle da venda de ingressos, proibindo a ação de cambistas; e o aumento da oferta do transporte coletivo, principalmente na saída dos estádios.


Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More